sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Nuâncias do Preconceito



Quem acreditaria que os americanos elegeriam um presidente negro tão cedo? Ou seria "tão tarde"? Afinal, já quebramos a barreira futurista dos anos 2000, a qual a ficção usava para datar suas previsões. Aquele tempo longínquo chegou.

Obama ganhou as eleições porque não apelou para o discurso racial. Ele não se vendeu como um candidato negro. Era apenas um candidato. Foi uma campanha sem ranço. Isso prova uma teoria antiga minha. Sempre acreditei que levantar a bandeira das causas raciais era o primeiro passo para o racismo. Fico extremamente feliz, e até presunçoso, que isso tenha se provado na maior esfera possível – a presidência "do mundo".

Cada vez que alguém aparece na TV falando sobre discriminação - ou elevando o mérito de quem conquistou algo "mesmo fazendo parte de alguma 'minoria'" – o preconceito se alimenta.

Em certa entrevista, o ator Milton Gonçalves disse que só o convidavam para programas, entrevistas ou aparições públicas quando o assunto continha abordagens étnicas ou de relacionamento social inter-racial. Nunca era solicitado para falar sobre seu ofício de ator ou sobre qualquer outro tema corriqueiro, daqueles que os veículos de comunicação adoram obter o testemunho fútil de celebridades. Na novela "A Favorita", da Rede Globo, ele representa um político corrupto, mas a questão racial nem é mencionada. Geralmente, haveria certo pudor em colocar um negro em um papel de vilão, com medo de julgamentos do tipo "só colocam negros como ladrões, assassinos, etc". Trata-se de uma vitória pessoal de Milton e de toda sociedade (note que não falei "sociedade negra", "afro-descendente" ou "afro-americana" – ô, terminhos ridículos). Isso se chama evolução e fico feliz que as pessoas estejam percebendo e agindo de forma mais positiva com relação a esta questão. Estamos em plena Semana da Consciência Negra. A pessoa que a inventou deveria estar presa. Imaginem uma semana da consciência branca. Impraticável. Então, o inverso também.

Não devemos, em uma questão historicamente tão conflituosa, exaltar nossas diferenças. Somos todos iguais. Só é preciso que acreditemos nisso e não promovamos a dúvida. A prova é o Obama. Talvez eu nem devesse ter escrito isto, afinal, minha teoria é justamente a de que expor pensamentos desse tipo só cria distinções que não existem. Ah, agora já foi.
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